Abstinência

    Já tão cedo, anseio novamente pelos suspiros da madrugada. Ofegos breves de uma mente fértil, zabaneira, uma nova abstração voluptuosa sob os lençóis frios e solitários. Almejo outro instante de enjoo frente ao incerto, grito por apenas um beijo viril, intenso o bastante para me ludibriar de sonhos e motivação.
    O que um dia me pôs a sangrar, hoje me é desejo de consumo. Os espinhos que uma vez me feriram, hoje valem as pétalas, o perfume, o gosto.
    O sabor do beijo intenso de um amor platônico compensa as lágrimas fartas de olhos desiludidos?...de um pobre coração cigano, partido?
    Todavia, quanto mais procuro me encontrar, mais me afasto deste ser desconhecido. Rezo para que ele, ao menos, exista além da minha imaginação, além do meu mundo distorcido.

"Mother Superior jumped the gun"

     Agora só consigo sentir tal angústia, angústia não inerente a mim que me possui por completo, me domina, me cala... Mas me põe a gritar.
Escarro agora o medo que sei que não fará parte de mim depois do sono mal dormido. Enquanto isso me contento com o amargo em minha boca e a aceleração do momento que tanto gozo ao fitá-lo enquanto dorme. Cansado, exausto de nossa noite de prazer apático. Não gostaria que tivesse a visão da face de minhas emoções, pois o preocuparia, creio que em vão.
     Todavia, aproveito o delírio deste instante indescritível, sozinha. Por agora, já acostumei-me com o gosto de tal destruição.