quarta-feira, 23 de novembro de 2011

13 de Novembro

Pensei, naquela tarde nublada de domingo, que seria apenas mais um dia perdido, apenas horas de tortura por não conseguir parar de refletir sobre meu ego ferido. Mas lá estava ele, cabelos negros e despenteados, trajes simples, pele morena e olhos castanhos. Parecia não gostar dos óculos, pois precisava colocá-los sempre que a conversa lhe dirigia a palavra, caso contrário estavam sobre a mesa. Mal sabia que este era seu grande charme, pelo menos o que primeiro me chamou a atenção; cheguei até a fazer um sutil elogio a respeito no fim da noite, ele ficou tímido, desviou o olhar para baixo com um leve sorriso, eu daria tudo para saber se era uma reação a mim ou apenas uma forma de lisonjeio. Sua imagem me induzia a questionar sua sexualidade, mas descobrir que era comprometido com a aniversariante foi um choque. Não por desmentir uma provável homossexualidade, mas por desmentir minhas expectativas. Pelo menos eu já estava embriagada o bastante para abstrair uma possível recaída por desilusão e sóbria o suficiente para manter-me distante, afinal, eu nem havia sido convidada. Lembro-me de quando o notei no local, sentado na fileira em frente a minha da mesa do bar, bem à direita; ele também havia percebido minha presença. Em alguns momentos da noite seu olhar era oblíquo, parecia atravessar a mesa, deslizando por entre os copos de vodka até mim; até meus olhos, que quase sempre davam de encontro aos dele. Um olhar sério, curioso, acompanhado de finos lábios entreabertos, desejáveis. De tempo em tempo o via se aproximar, até que sentou-se próximo o suficiente para que eu pudesse perceber sua curta barba mal feita, neste momento conseguimos travar breves conversas superficiais, daquelas de quem se interessa mas tem receio.
No final da noite restaram só algumas poucas pessoas e não mais no bar, tragávamos e ríamos em conversas motivadas pela substância. Ainda, às vezes, dirigia meu olhar ao dele, sempre se batiam, mas não conseguíamos nos fitar por muito tempo. Ao se despedir, foi o único ao se aproximar até meu rosto. Pude perceber que, de tempo em tempo, fitava-me através do vidro do carro em que estávamos, em que eu ainda me encontrava. Após menos de um minuto voltou para pegar algo, nem percebi se havia realmente algo em suas mãos, apenas que seu olhar e sorriso se dirigiram a mim outra vez com um breve "tchau" não tão breve.
Parecia certa sua reciprocidade, mas talvez eu apenas estivesse muito embriagada para distinguir entre o que eu desejava e o que era real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário